sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

E mais uma década chega ao fim...

Hoje é o último dia do ano e cá estou, home alone, fazendo uma lentilha para comer all alone, antes de ir para a redação e por lá passar uma madrugada. Enquanto muitos acham que isso é o fim, até que já me acostumei com a ideia de passar os anos trabalhando.

O pior não é isso. O pior, de verdade, é estar longe na hora que o relógio marcar meia-noite, na hora em que não poderei abraçar minha família, meus amigos e dar um beijo no meu namorado. Todos estão longe. E a cidade está vazia – o que é único benefício para os que por aqui ficam.

Enfim, passo por aqui para fazer um balanço do meu ano: o meu top 10 novamente – o que 2010 me reservou.

TOP 10 ACONTECIMENTOS DE 2010

1. A volta para a terapia e o ano inteirinho de descobertas boas e ruins sobre quem é a verdadeira Camila.
2. Ter descoberto um câncer de tireoide, passado por complicações, incluindo quatro cirurgias e uma pneumonia. Ter feito a iodoterapia, ficado com hipotireoidismo, me arrastando pelos cantos, me recuperado, tomado hormônios e cálcio e ter descoberto, mesmo assim, que a vida ainda pode ser normal.
3. Em compensação ganhei a companhia de minha mãe por três meses inteirinhos do meu lado, em São Paulo, além de algumas viagens extras ao Rio Grande do Sul, o que recupera a energia de qualquer pessoa.
4. Recebi a visita do meu pai, duas passadas curtinhas da Xexa e uma média da Helena, para a alegria dos meus dias em Sampa.
5. Mudei de emprego. Saí do Abril.com e fui de mala e cuia para a redação do site da Contigo!.
6. Fui chamada para participar como blogueira do programa Hoje em Dia, entrevistando os eliminados da Fazenda. Apesar da cara de sono das segundas-feiras, a alegria ao final delas era maior.
7. Mudei de casa e hoje moro com o namorado! Na casa antiga deixei tristezas e preocupações.
8. Perdi minha Vó Alzira, aos 99 anos, que sempre vai me fazer sentir uma saudade sem fim.
9. Comprei o box completo dos sucessos do Chico Buarque e coleciono compulsivamente a série Barrados no Baile: uma tentativa desesperada de voltar no tempo, já que os 30 parecem estar chegando com força.
10. Aprendi que a morte pode não ser tão ruim quando não se tem medo dela. E que nunca fez tanto sentido viver cada dia como se fosse o último.

Um Feliz Ano Novo para todos! Esperemos que 2011 traga saúde e paz!

PS: Dá para acreditar que uma década do ano 2000 já se passou? Glup!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Jornalismo (x)


Se eu pudesse voltar lá atrás hoje, será que eu escolheria o jornalismo como profissão?


Costumo dizer que sou uma atriz frustrada, que nunca teve coragem de se jogar no mundo para fazer Artes Cênicas achando que o negócio não iria para frente. Acho que estava certa...

Lá em 1999 eu tinha apenas uma certeza: iria ser médica, um sonho que carregava comigo desde a infância, quando espalhava aos quatro ventos o quanto eu queria ser pediatra. O meu primeiro vestibular me mostrou que eu não tinha nascido pra ver sangue e pessoas agonizando (muito menos crianças).

Ao invés de tentar mais uma vez e persistir no erro, decidi pensar em algo que gostava muito de fazer, algo que fosse feliz fazendo até o resto da minha vida. Nossa, e como eu gostava de escrever! No colégio, as matérias iam de mal a pior, a não por algumas exceções: português, história e inglês. Alguma coisa isso tinha que significar...

Jornalismo foi a opção marcada no vestibular. Depois de passar, só pude ter a certeza absoluta de que era isso que eu queria fazer para o resto de toda a eternidade quando assisti à minha primeira aula. A sala estava recheada de pessoas (incrivelmente) parecidas comigo: os mesmos sonhos, o mesmo pensamento e a mesma ideia que todo jornalista foquinha tem de querer mudar o mundo e de cobrir uma guerra.

O primeiro estágio me deu a noção do peso da profissão. Sabia que tinha muita responsabilidade pela frente e, desde então, é assim que encaro os fatos.

Vim para São Paulo para tentar fazer dinheiro – objetivo esse que até agora não foi atingido – além, é claro, de ganhar visibilidade, já que é aqui que o negócio ferve... Apesar dos poucos anos de profissão, sinto que já carrego uma bagagem e tanto! E o melhor é quer ainda há mais a aprender: mais coletivas desesperadas, mais correria, mais fatos inusitados naquele dia cansativo em que tu só pensa em ir embora para casa.

E, claro, nada como os colegas jornalistas: galerinha sempre pronta para sentar a bunda em um bar e por lá ficar até sentar a bunda na sarjeta.

Se eu pudesse voltar lá atrás hoje, será que faria de novo?

Com certeza! JORNALISMO (x)

"Jornalismo é publicar algo que alguém não quer que seja publicado, o resto é relações públicas" (G. Orwell)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Passo a passo



Ela andava na rua sem saber se era ela mesma que estava naquele corpo. Era o medo de ficar trancada que fazia ela andar e andar, cada vez mais depressa. Medo esse de ficar trancada dentro de si. Trancada em cada pensamento. O melhor era não pensar em nada, apenas andar.

Ao invés de fugir, corria; ao invés de chorar, bebia; ao invés de pensar, andava.

domingo, 28 de novembro de 2010

Santa Claus is coming (back) to town


Quando foi que Papai Noel começou a chegar mais cedo? Isso tudo deve ter sido culpa dos efeitos climáticos, do tal El Niño e La Niña! Nem ele mais sabe quando é inverno ou verão, então sai de casa em meados de... OUTUBRO! Não estou brincando. Vi gente colocando decoração natalina em um supermercado em data próxima ao Dia das Crianças.

Qual é a razão de querer antecipar tudo? Juro que não me dei conta que 2010 passou, assim, tão rápido. Parece que ontem eu estava aqui, sentada à frente do mesmíssimo computador, escrevendo um texto de final de ano, com fotinho de Papai Noel e tal. Como assim ele já está de volta?

Não que eu não seja a mais fácil das criaturas para entrar no clima de “Jingle Bells”. Na adorável companhia de minha mãe, me aventurei em mais uma ida a 25 de Março para tentar comprar meu próprio pinheirinho e suas tralhas. Consegui, mas também consegui dor de cabeça e mau humor com as longas filas, as pessoas gritando e tudo aquilo que eu já contei pra vocês em post recente sobre a rua mais estressante do país – porém, multiplicado por vinte. (Não leu? Clique aqui!)

Enfim, hoje eu tenho um pinheiro de Natal, com bolinhas vermelhas e luzinhas que piscam, além de enfeites enviados pela minha querida irmã dos tempos em que tínhamos tempo para decorar árvores...

Em menos de um mês, estarei em São Léo na companhia da minha maravilhosa família, enchendo a cara e agradecendo, mais um ano, por poder fazer tudo isso – e ainda mandar o cavaco chorar (piada interna familiar).

Há alguns dias foi comemorado o Dia de Ação de Graças – que nos EUA é feriado e aqui acaba passando despercebido. Aproveito o espaço (e adoro tê-lo criado para mim) para agradecer esse 2010. No ano passado, eu reclamei muito, disse que o ano não tinha sido legal, mas esse tal 2010 – que deveria ter sido beeem pior, acabou se tornando um baita ano – com direito a mudanças maravilhosas.

Então, aproveito o singelo espacinho para agradecer à minha família sem-adjetivos-para-explicar, que esteve do meu lado todo esse ano e que cada dia eu amo mais. Agradeço aos meus amigos especiais, que não desapareceram do meu lado nas horas em que mais precisei. Agradeço ao meu namorado mais do que especial, que está sempre aqui para ouvir meus lamentos, meus medos e, claro, compartilhar das nossas alegrias. E uma dessas alegrias é justamente a nossa casa nova, um apartamento que parece ter caído do céu em nossas mãos.

Agradeço pela melhor notícia dos últimos tempos: posso voltar a fazer exercícios. Após uma longa batalha para fazer o cálcio subir, ele, enfim, voltou ao seu normal. E mais legal ainda: meu fígado está 100%.

Obrigada por estar viva e poder estar escrevendo esse texto ao final de mais um ano.

E, Papai Noel, se não for pedir demais.... Só quero saúde para o ano que vem!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Vizinhos moram no meu passado

Após uma manhã agitada na Record, na cia de ninguém menos que Sérgio Mallandro, e uma tarde de mistura de sentimentos após assistir “Tropa de Elite 2”, eis que chego em casa e tento dormir.

Imagina se consegui? Pouco, muito pouco. Na minha primeira virada no sofá escutei “Manequim, teu sorriso é um colar de marfim”. Pensei cá com meus botões: “isso só pode ser um sonho digno da minha infância”. Pois não era.

Ao fechar os olhos novamente, ouço “Rala, ralando o Tchan aê...” seguida de “Vamo pulá” e “É na manteiga, manteiga, manteiga...”. Oooooh Myyyy God (no maior estilo Janice – Friends -de pronunciar).

Aí acordei de vez e fiquei tentada a conhecer o restante do repertório, que contou com Polegar, Gretchen e até mesmo Rita Cadillac com sua “É bom para o moral”.

Fui até a sacada algumas vezes para tentar saber o que estava rolando, mas ninguém veio para fora. E é claro que eu entendo, né? Afinal, a balada lá dentro estava muito mais animada – e isso antes das 19h30.

Próximo passo: fazer contato com a vizinhança. Quero voltar ao passado sem precisar cair longe na balada... Velha é velha. E tenho dito.

sábado, 16 de outubro de 2010

"Se chorei ou se sorri..."

Qual a graça de uma vida se ela não se parece com uma montanha-russa? A minha, no último mês, está no maior estilo parque de diversões. Nada como os conselhos de minha sábia mãe: depois de tanta coisa ruim, o futuro só pode estar reservando um presente atrás do outro. E não é que está mesmo?

Não que todos os dias sejam perfeitos e que eu seja uma pessoa que lide bem com surpresas de última hora, mas ando encarando bem as situações que a vida adulta exige: com mais responsabilidades no trabalho, dividindo a atenção com os amigos, com o namorado, com a família...

Descobri – na última semana - que posso ser o ombro amigo perfeito, que posso ser uma dona de casa dedicada, uma chefe chatinha. E que posso chegar em casa à noite e ainda chorar que nem um bebê .

Acho que envelhecer (oh, no!) é aprender a viver um dia depois do outro. É realmente (e bem clichê) viver o hoje como se não houvesse o amanhã. Não que, para isso, seja necessário chutar o balde. Mas acho que é sempre importante dizer o quanto você ama as pessoas que realmente importam para você, gargalhar até a barriga doer, chorar muito e resolver os problemas com sinceridade – sabendo que, assim, eles vão embora mais rápido.

Essa vida – porque, sim, eu acredito que nós temos tantas outras – é única. E as emoções são o que nos diferem de robôs. É por essas e outras que não tenho vergonha de ser assim, de me expor ao ridículo, de armar meus pequenos barracos, de reclamar quando as coisas não vão do jeito que eu estava esperando e de dizer o quanto amo meus amigos – e não somente em uma noite de bebedeira máster.

Como já cantava o rei, “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. Se elas são boas ou ruins? Ah, isso a gente trata na terapia!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Mudou de casa? Também!

Atualizando aqueles amigos que depois me xingam via todos os tipos de redes sociais: agora trabalho no site da Contigo! E não mais no Abril.com. Ahmmmm e ... e... ah, e estou participando como blogueira do programa “Hoje em Dia”, comentando a terceira edição de “A Fazenda” e sabatinando os eliminados do reality show!

Se estou nervosa? Morrendo!

Se estou feliz? Muito!

Se estou aproveitando? Por enquanto, absorvendo as novas ideias...

Gaúcha está REALMENTE em Sampa. Aqui as coisas parecem que acontecem mais depressa...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Enfim, em casa!


Há muito não me sentia assim, tão confortável. Na verdade, desde que pisei em Sampa, passei por tantos lugares, mas nunca pude chamar algum deles de lar de verdade. O último, que era para ter sido um doce ambiente, foi tomado por mofo e lembranças boas - para esquecer!

Depois de algum tempo procurando, eis que o apartamento dos sonhos praticamente caiu na nossa frente. Tudo começou a dar certo e, de repente, estávamos com contratos assinados e a chance de termos um lar doce lar.

Porém, logo no dia da mudança as coisas não aconteceram da maneira que esperávamos. O tio da mudança acabou dando para trás de última hora e somente após algumas discussões, ele disse que viria. E ele veio – só com apenas um ajudante. Eu disse que isso não era problema, afinal, nem tínhamos tantas coisas. Engano! Era tanta coisa, mas tanta coisa que no final do dia percebemos que havíamos trabalhado muito mais que o tal Zé. Enfim, tínhamos nossas coisas em nosso novo teto. E isso já era o máximo.

Ainda não havia voltado ao trabalho, mas estava pegando no pesado como nunca teria feito na redação. E era um liga pra aquele lá, arruma aqui, varre ali, fura lá, briga acolá! E o pior: gastando muito dinheiro.

Um dia antes de voltar à lida, fui até a companhia de gás para fazer a tal ligação. Quando saí de lá fui fazer um ultrassom de meu pescoço (que está limpinho!), mas nem tive tempo para comemorar as boas... logo o zelador ligou para avisar que estávamos sem luz. Rá! A antiga moradora era uma boa de uma devedora e deixou 3 contas sem pagar, assim como havia feito com o gás, a tv a cabo and so on...

Me vi correndo de um lado para outro de jeito frenético para fazer as benditas ligações de urgência. Consegui! Cheguei em casa, acendi algumas velas e fui ler meu Machado de Assis – no maior clima de início de século passado.

Adivinha se a Eletropaulo apareceu? É CLARO QUE NÃO! Foi um tal de banho frio gritado e o pior: era a nossa primeira sexta-feira no meio da Vila Madalena, ou seja, nenhum sono adquirido e nenhuma forma de abafar o barulho a não ser dois chumaços enormes de algodão nos ouvidos. Não se esqueçam: eu estava na véspera de voltar ao trabalho após 20 dias de férias. Foi um início estranho e cheio de sono, mas, enfim, no outro dia, eu já tinha energia mais uma vez e gás – para o bem da moderna humanidade.

E a Net? Nossa, se eu tivesse que escolher um grupo para extinguir do planeta, seria o dos trabalhadores deles. Foram TRÊS semanas de espera para ter internet, telefone e TV. E é por isso que só agora escrevo as novidades – enquanto degusto meu primeiro chimarrão dos novos tempos, de novos espaços.

Hoje, mais do que tudo, temos um lar confortável – com direito até mesmo a sofás!

Agora, bem, agora só faltam as cadeiras!



terça-feira, 24 de agosto de 2010

Dona Alzira


O sotaque alemão puxado, as mãos fortes, o senso de humor marcante e aquelas bochechas... Nossa, dona Alzira, tu já deixas tantas saudades!

Como a grande estrela que sempre foi, fechou as cortinas da vida sem aviso prévio, deixando a plateia inteira de boca aberta, sem saber como se comportar – sem saber se chorava ou batia palmas pela tua atuação

E foi um grande espetáculo: 99 anos da mais plena existência. Se por um lado a família de sangue era pequena, dona Alzira tinha um talento gigante para conquistar novos seguidores. Era abrir aquele sorriso e lá estava uma nova leva de filhos postiços, além de netos e bisnetos.

Mais do que fazer amigos em cada esquina, dona Alzira era conhecida pela extrema resistência. Até poucos anos atrás pegava ônibus só para ir ao Mercado Público comprar peixe para um almoço. A tua lucidez chocava. Era maravilhoso sentar em sua sala e poder ouvir memórias riquíssimas de um tempo anterior à Segunda Guerra Mundial – e cheias de detalhes - que ela, como boa contadora de histórias, jamais deixava escapar

Acredito que o segredo de (quase) um século de vida plena tenha sido o jeito como ela lidou com tudo que surgiu. Sofreu? Sim, muito. Não deve ser nada fácil se despedir (um a um) daqueles que passaram pelo caminho: irmãos, marido e, até mesmo, um filho. Mesmo assim, depois do luto vivido, ela levantava a cabeça e seguia em frente. Sabia que tinha uma missão a cumprir e que a jornada continuava.

Um dia me disse que vivia tanto e tão bem porque gostava muito da vida. E era só olhar para ela, com aquele sorriso de orelha a orelha, que sabíamos que (mais uma vez) ela estava sendo sincera.

Vou guardar para mim aquela imagem da minha avó, na frente do portão de sua casa, acenando para o nosso carro, cada vez que nos despedíamos. Sempre soube que esse dia chegaria e que aquele aceno seria um “adeus” e não mais um “até logo”. Só não sabia que ele chegaria assim, de supetão.

Para nós, a tua plateia, os teus fãs mais verdadeiros, fica aquela saudade eterna e aquela vontade de ouvir uma última história, só mais uma gargalhada e sentir aquele poderoso abraço.

Saudade, vó Alzira. Muita saudade. Para ti, somente as minhas palmas.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

À espera das rugas


Sempre fui conhecida por ser uma pessoa pilhada. Energia para dar e vender – estar em todos os lugares – marcando presença e batendo o cartão – com a certeza de estar lá para fechar a balada e ir para outro ambiente. E zaz e zaz e zaz!

Pois bem, não sou mais assim

É triste, mas é verdade. No último final de semana eu ainda pude distribuir empolgação e ficar acordada em cima de um salto 20 até quase 5 horas do dia seguinte, mas quem disse que no day after eu estava algo mais que um zumbi?Até hoje (três dias depois) ainda sinto as dores de dançar por horas a fio e o pensamento de beber cerveja já me enjoa

Bons eram os tempos em que acabávamos com meia garrafa de “Velho Barreiro” e no dia seguinte acordávamos zerados, não? Já não sei mais o que é isso há anos. Parece que a cada dia que passa a gastrite fica mais forte e as preguiça mais profunda. Hoje, para me fazer sair do “lar, doce lar” o programa precisa ser realmente muito tentador.

Quando eu era criança achava que aos 28 anos (glup!) estaria muuuuito velha. Hoje vejo que estou mais exigente: não topo qualquer balada, qualquer drinque e, muito menos, qualquer companhia.

E as rugas? Está bem, eu não tenho muitas (ainda!) – mas quando elas chegarem de vez, quero que elas tenham seus significados e que tenham valido (e muito) as noites de bebedeira cheias de conversas regadas a vinhos baratos de garrafão ou ao cabernet sauvignon chileno.


Evolução (?) dos tempos. Mudanças necessárias.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Paranoia delirante


Controle do cérebro. Controle do cérebro. Controle do cérebro. Controle do cérebro.

Para uma pessoa como eu é difícil manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.


Por essas e outras, dedico “Paranoia Delirante” nesta segunda-feira pré-férias. Com vocês, Cássia Eller e Xis!



sábado, 7 de agosto de 2010

E vamos abrir as portas da esperança!


Ouvi dizer que quando tudo começa a dar certo – você está no caminho certo!


Dedos cruzados!!

Mais informações: LOGO!

sábado, 31 de julho de 2010

“Ai, ai, ai titiiiiiaaa”


Acabo de voltar de mais um nada prazeroso passeio à rua 25 de março, localizada no coração de São Paulo – onde é sempre possível ver gente correndo da polícia, do rapa, de alguém...

Só frequento o local em caso de necessidade (talvez caridade) e também turismo. Sim, gente, a rua da muvuca é destino certo das pessoas que chegam a Sampa para ficar alguns dias - Tirando a Helena, claro. Que foge como vampiro de um colar de dentes de alho..

Ir para lá é sempre uma aventura. Isso porque é uma espécie de corredor polonês – com direito a massageadores inconvenientes e gente que solta pipa que, com a falta de vento, deixa o querido brinquedo voar na tua cabeça (e a novidade do dia: um balão-helicóptero). Além disso, tem o famoso “ai, ai, ai titiiiiiaaaa”, um bagulho que o povo enfia na boca e faz o barulho mais insuportável que já ouvi na vida. O negócio é tão parecido com uma droga que depois de muito ouvir você até começa a achar engraçado.

Isso não é nada comparado a estar interessadíssima em um lenço, colocando a mão no bolso para comprar o acessório, quando – de repente – a pessoa (que se diz vendedora) sai correndo com ele dali. “Porra, o que aconteceu? Eu juro que tenho dinheiro!”. Não era nada. Só o rapa. Fiquei sem lenço.

É claro que todo o esforço de frequentar o ambiente umas quatro vezes por ano tem sua recompensa. Você sempre pode se gabar de ter comprado um produto muuuito mais barato que seus amigos – e que vai quebrar muuuuito mais rápido que o deles...

Você também sempre tem a chance de fazer uma visita ao Mercado Municipal e degustar um delicioso pastel de bacalhau, um sanduíche de mortadela (que, cá pra nós, eu nunca tive coragem) e tomar um chope. Porém, depois de experimentar as delícias da boa vida novamente, quem diz que é fácil subir a ladeira Porto Geral e pegar o metrô para voltar pra casa?

Como diria o grande filósofo Kleber Bam Bam: “faz parte!”

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Fogo e paixão


Ouvi por aí que o nosso ascendente é como os outros pensam que somos e o nosso signo verdadeiro é como somos de verdade, no coração.

Quem me conhece de verdade sabe que sou uma pisciana no caroço: eu sou apaixonada e romântica, sempre sonhei com o príncipe encantado (e ele finalmente chegou!) e me fixo em qualquer pé de coelho para me dar uma forcinha extra.


Por outro lado, sei que meu lado ariano é forte – esse jeito decidido, que vai empurrando pessoas pelo caminho e sabe bem o que quer. Depois disso, é claro, meu lado peixes volta com tudo, e eu me sinto culpada por ter feito alguém sofrer, caindo em prantos...

Não é fácil ser água e fogo em uma mesma pessoa. Há quem resuma isso em bipolaridade, mas eu prefiro acreditar que essa mudança rápida no humor – na vontade de ser 8 ou 80 - tem a ver com ser Peixes X Áries. É o primeiro e o último signo do zodíaco em um só corpo. E como ele sofre!


Sou pé no chão e aérea ao mesmo tempo. Acredito ser responsável pelo meu destino, mas não deixo de acender uma vela, esfregar um cristal e trazer todos os tipos de mandalas e figas para dentro de casa. Fé nunca é demais!

Wando (rei!) já cantava o fogo e paixão, porém em duas pessoas distintas. Já eu sou o próprio fogo e a própria paixão. 2 em 1, como o shampoo + condicionador.

Gosto de ser essa mistura louca de acende e apaga, fogo e água. Agora ou nunca.

PS:
Breguice, assim como foi esse post, também é marca forte de meu signo de á
gua. ;)

domingo, 25 de julho de 2010

À procura do lar doce lar



Desde quando achar um lugar digno para morar tornou-se atividade tão difícil? Após dois dias de caminhadas intensas sob forte sol e poluição paulista, peço socorro aos amigos.

Em primeiro lugar, como é possível existir tantos apartamentos de um quarto só? Quando eu precisava deles, apenas não os encontrava. E agora que preciso de dois dormitórios, para onde eles foram?

Ladeiras sem fim, preços nas alturas, mas esperança que jamais morre.

Enquanto a casa perfeita não chega, só conseguimos viver bem com a ajuda do X-14 (que Deus abençoe esse produto contra o mofo!)

Os documentos já estão separados, o jovem casal louco para uma mudança, os móveis novos escolhidos.

Agora só preciso de um novo lar para chamar de meu.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Aceitando o acaso

"A prova de que estou recuperando a saúde mental, é que estou cada minuto mais permissiva: eu me permito mais liberdade e mais experiências. E aceito o acaso. Anseio pelo que ainda não experimentei. Maior espaço psíquico. Estou felizmente mais doida."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito

Esses dias fiquei pensando na minha missão na terra. Cada um tem algum talento especial, uma qualidade que ultrapassa qualquer defeito. Há aqueles que têm o dom para a arte, seja ela a música, a literatura, as cênicas... Há quem tenha facilidade para o intelecto – e nunca se cansam de aprender. Há outros, ainda, que têm sede de viagens e não descansam enquanto não conhecerem o mundo inteiro.

Acredito que o meu talento seja reunir pessoas. Sempre fui boa nisso. Gosto de ser amiga e de unir um grande grupo de pessoas ao meu redor. Meu dom talvez seja deixar as pessoas felizes. Gosto de me passar por boba, palhaça, imbecil – só para arrancar um sorriso cheio de dentes (ou, talvez, sem eles) de alguém. Acredito que sendo feliz a vida passa mais leve, menos dolorosa.

E é por essas e outras que hoje venho aqui agradecer aqueles que sempre estiveram do meu lado. Vocês sabem quem são. Os meus de verdade: aqueles que ficaram no sul (que ocupam um espaço gigante no meu coração e pensamento – sempre), aqueles que estão longe do Brasil, aqueles de Sampa, os só do trabalho, os mais que o trabalho, aqueles que fiz em cada novo passo pelo mundo, aqueles de sangue, aqueles de bar. O amor como melhor amigo. E até o amigo do amigo.

Quando estava no hospital e ficava triste, procurava sempre pensar nas coisas legais que já havia vivido por aqui (na Terra). O que me fez seguir em frente foi a certeza de que vocês existiam, que estavam pensando na minha recuperação e na minha saúde.

E o melhor de tudo é que sei que ainda há muito mais para ser vivido: conversas devem acontecer, piadas e chopps, festas, colos, lágrimas e sorrisos. Muitos sorrisos.

Amo vocês. Feliz Dia do Amigo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Bah, que frio de renguear cusco!



Pois é, caro paulista. Se você acha que isso que te faz usar um cachecol e botas se chama inverno, preste atenção às minhas palavras. A moça do lado de cá sabe bem o que é viver um frio de “renguear cusco”, expressão essa que você jamais deve ter ouvido.

Lá na minha infância, agraciada com finais de semana na casa de minha avó materna – na serra gaúcha – eu não conseguia dormir de tanto tremer. Ah, sim, lá fazia ZERO grau com uma certa frequência. Mas não é o tipo de frio que você mata com uma xícara de café. Lá a gente passava a cama à ferro antes de deitar. E olha que para dormir nós nos tapávamos com uma meia dúzia de cobertas fofinhas e pesadas, todas confeccionadas por minha vó Divina.

Se você acha sacrifício acordar quando a temperatura está lá embaixo, não imagina o que é amanhecer quando a geada dominou o seu jardim.

Uma blusa e um casaquinho? Experimenta tentar vestir três calças, um blusão e dois casacos. A cena não é das mais bonitas, mas se faz necessária. Isso quando não era infância, que ainda é preciso um par de polainas, uma touca e um enorme de um cachecol. Só fica faltando a cenoura no nariz!

Você, caro amigo, que acha que ligar um aquecedor é coisa de outro mundo, não sabe como é ter um em cada quarto e ainda uma lareira bombando na sala. Não sabe o valor de uma sopa de capeletti pelando, um vinho tinto e uma meia de lã.

O frio faz a gente querer ficar em casa. Talvez seja por isso que ele venha sempre acompanhado de saudade. Daquele cheiro de lenha queimando tão característico de tempos remotos de minha vida.

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Parece que São Paulo não combina com aquela friaca. É claro que, obviamente, ela também não combina com verão. A união da poluição MAIS trânsito MAIS gente suada não é nada agradável – ainda mais quando se anda de ônibus.

Voltemos ao frio. Demorou, mas ele chegou. Depois de tempo seco, sol rachando em pleno inverno paulista, narizes sangrando e postos de saúde lotados, lá veio a chuva, como um presente dos meus conterrâneos. Por sinal, cheguei a ser xingada por vários taxistas, como se fosse casada com São Pedro e tivesse mandado meu marido enviar água para a cidade da garoa.

Acordei na terça-feira com um certo calorzinho. Voltei pra casa congelada. Acho que sofremos uma queda de uns 15 graus em um só dia (com um certo exagero à la Borowsky, para os que não me conhecem so well). Para os que já me conhecem sabem que essa derrubada de celsius é o que me deixa mais feliz (é claro que tiraria a chuva de minha paisagem particular).

Devidamente encasacada saio me gabando pela velha Sampa, sempre deixando claro que eu, muito gaúcha, aguento frios muito piores do que este aqui.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Got milk?


Mais do que ninguém sempre odiei tomar leite. Aquele líquido branco me repugnava de uma forma inexplicável.

O meu truque para o Sucrilhos era encher o pote, comer a parte sólida e, depois, jogar o leite na pia.

Nunca achei que fosse precisar me preocupar com cálcio, mas, É CLARO, lá vem a vida não apenas colocando o pé pra gente tropeçar, como também mandando um “pedala, Camila!”

Quando “escavaram” meu pescoço para retirar minha tireóide por completo, os médicos acabaram levando minhas paratireóides, as glândulas responsáveis pela absorção do cálcio no corpo.

Minha endócrino acreditou que elas podiam ter sobrevivido à “escavação” mas, pelo que os exames têm mostrado, não há mais nada a fazer: terei que tomar cálcio e o fixador dele para toda uma vida.

A minha maior dificuldade ainda é me forçar a tomar leite e seus derivados. Porém, hoje mais do que nunca, sei da importância que tem uma vaca na vida!

Se tiver um único conselho para dar hoje para vocês, esse seria: “beba leite”

domingo, 11 de julho de 2010

I´ve had the time of my life


Ao contrário de muita gente traumatizada, eu tive uma infância emocionante. De tão feliz que ela foi, eu poderia ficar para sempre trancada dentro de um filme da “Sessão da Tarde” – com direito a casa na árvore e buzina na bicicleta.

É claro que todas as gerações têm o direito de puxar a brasa para sua sardinha, mas tempos melhores que os anos 80 vão demorar para acontecer.

Nós tínhamos muita liberdade. Aqueles que vieram antes tinham mais obrigações. Aqueles que vieram antes tinham roupas demais para poder brincar em paz no meio da rua. Aqueles que vieram depois tiveram medo de sair de casa (com razão!). Aqueles que vieram depois têm roupas caras demais e não podem sujá-las. A gente viveu a melhor parte porque esteve no meio de tudo.

Eu subi em muita árvore nessa vida (e, sim, quebrei meu braço em uma delas). Eu andei de bicicleta sem destino. Eu roubei flores de vizinhos. Eu fazia banquinhas e vendia meus gibis. Eu brincava de escolinha por quatro dias consecutivos ao lado da minha irmã. Eu comia bolo de chocolate à tarde, tomando Tang laranja e assistindo a “Curtindo a Vida Adoidado”. Achando (sempre) Matthew Broderick o cara mais lindo e rebelde do mundo.

Naqueles tempos os dias pareciam ter mais sol, as casas tinham menos grades. Os amigos eram os do colégio, os da rua, as primas.

A gente fazia festas de aniversário em nossas próprias casas (ou em clubes), mas jamais em buffets. Quantas noites sem dormir passou minha pobre mãe preparando decorações quando eu decidia temas absurdos para minhas comemorações, como a “festa do sorvete”? Nós tínhamos que bolar as nossas próprias brincadeiras. As músicas tocadas eram de todas as loiras da TV (e Mara Maravilha, a única morena), além de Trem da Alegria e Balão Mágico. Até hoje as crianças têm festas com essa trilha sonora. Eita falta de criatividade!


Era um tempo de poucas responsabilidades. Hoje em dia, uma criança tem não só o colégio por tempo alongado, como também faz aulas de línguas e todos os esportes do planeta. Eu também tinha meus compromissinhos, mas eles mal ocupavam meu tempo.

Sempre tinha o lado mais importante para qualquer criança: as brincadeiras.
Pude inventar coisas sem pé nem cabeça, mas que me deram uma certeza do que eu queria da minha vida: nenhuma rotina e um pouco daquela rebeldia digna de Ferris Bueller.

sábado, 10 de julho de 2010

I (L) São Paulo

Trânsito. Táxi. Delivery. All Star. Gay. Trabalho. Poluição. Rock. Vila Madalena. Cerveja. Noite. Sinaleira. Engarrafamento. Celular. Padaria. 24 horas. Amor. Augusta. Bilhete Único. Fumaça. Emo. Paulista. Pizza. Feijoada. Metrô. Passos rápidos. Passos rápidos. Risadas sem fim. Solidão. Câncer. Recuperação. Saúde. Saudade. Saudade. Amigos que são irmãos. Bares que são lares. Cerveja na hora do café. Dias por noites. Revistas. Outdoors. Arte. Teatro. TV. Bancas. Metrópole do mundo. Cidade de todos.

Aquele olhar

Uma das coisas que mais me irrita em ter passado por uma experiência de quase-morte é sentir que todos te percebem diferente. Parece que pós-câncer eu fico o tempo todo querendo provar aos outros que “hello, eu sou normal! Sou a mesma pessoa!”

Mas não adianta. Apenas os que não saíram do meu lado durante tudo que passei são os que me encaram como a mesma de sempre. Tenho até medo de contar aos outros porque sempre recebo aquele olhar...

Em mais um longo desabafo no divã percebi que, na verdade, esse é um olhar dado de Camila para Camila. Eu é que sempre fazia esse olhar quando alguém me dizia ter câncer ou qualquer outra dessas doenças que temos medo só de ouvir o nome. E, perceber que eu estava, na verdade, julgando o olhar alheio, me encheu de vergonha.

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Hoje, em conversa com minha irmã americana, contei tudo que havia acontecido. Ela disse estar em choque (o pai dela morreu do maldito). Há dois meses o marido dela apagou em um terrível ataque cardíaco. Ele morreu e conseguiram reanimá-lo. Hoje ele está voltando à vida, em passos bem curtinhos.

Sabe o que ele mandou me dizer? Que não tinha mais medo de morrer. No tempo em que ficou morto, sentiu-se muito bem, em paz.

Eu perdi meu medo de morrer quando tive bastante tempo livre para pensar na vida. Hoje eu parei de pensar o que pode me matar. Hoje só quero saber do que me deixa mais viva, nem que seja apenas sair de casa.

A única coisa que sei é que nunca mais darei “aquele olhar” para ninguém. Nem mesmo para mim.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Aquele de quando eu perdi os Amigos

Foram 40 CDs em menos de um mês. Eu sei que é meio assustador, mas foram 240 episódios – um depois do outro, quase como abrir uma caixa de Bis. De repente, eu estava vivendo ali – em Nova York – com meus seis amigos: Chandler, Monica, Rachel, Phoebe, Ross e Joey.

Hoje, depois de passar um domingo inteirinho (e não minto quando digo isso) assistindo à última temporada de Friends, voltei para casa com um vazio. Um sentimento estranho. Parecia que não tinha com quem conversar.

O pior de tudo é que queria continuar vivendo tudo aquilo. E ainda sobraram perguntas do tipo “como será que estão os gêmeos da Monica e Chandler?” “Será que Rachel e Ross tiveram outros filhos?” “E Joey, será que encontrou um grande amor?” “Phoebe teve trigêmeos novamente e pode ficar com as crianças?”

E mais: “quem alugou o antigo apê da Monica?" "Rachel voltou a trabalhar na Ralph Lauren?”

E o mais importante: como ficou a amizade deles à distância?

Será que eles sentem a minha falta?

Eu só sei que já sinto saudades.

sábado, 29 de maio de 2010

O avesso, do avesso, do avesso...


É com o chimarrão na mão que anuncio que esta semana completo DOIS anos de São Paulo.

Nesse clima que deu o nome ao blog eu acordei em uma bela manhã de sol paulista

E acordei no clima de Sampa. Por essas e outras resolvi tocar incansavelmente a música de Caetano. E descobri que trocando os baianos por gaúchos da canção, só faria mais uma alteração: “alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Paulista e a Consolação” (e até rimou, vai!)

É ali, naquele cantinho da cidade, que senti meu coração bater mais forte. Que soube que estava aqui – onde tudo acontece. E é estranho, mas sempre que passo por aquele espaço, me sinto parte de um todo.

Obrigada, Sampa, por me acolher desta forma quase que maternal.

“E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso”

I hope you don´t mind


"How wonderful life is while you´re in the world."

Uma pequena declaração de amor em um sábado apaixonado.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Enfim, a doce liberdade




Há poucas horas fui brindada com a notícia de que estava livre. Livre de um quarto de hospital onde passei as últimas 48 horas tentando me livrar da minha dose de iodo – o final do tratamento contra o câncer de tireóide.

Foram dois dias de tédio e reflexões apenas interrompidos por ligações de enfermeiros pedindo para que eu fosse até o banheiro para que eles pudessem deixar minha comida sobre uma mesinha logo na entrada do lugar.

No início, foi engraçado, confesso. Depois, encheu o saco. O segredo para ir embora é tomar muita água e muitos banhos.

Não senti efeitos colaterais além da minha gastrite de sempre (um pouco piorada) e uma dor nas glândulas salivares, onde o iodo fica concentrado.

Logo que cheguei me deram um belo traje de gala – composto por roupas azuis que caberiam em Jô Soares facilmente. O tecido, se é que se pode chamar assim, era uma mistura de papel e plástico. Além do outfit, eu também ganhei um protetor para os pés.

Depois de tomado o iodo 131, que no meu caso foi uma dose de 256, a gente fica só esperando saber como o corpo vai reagir ao lance da radiação. Eu, como estava preparada para o pior, não senti grandes efeitos.

Amanhã começo o tratamento com os hormônios. Mais uma novidade na minha vida. Estou curiosa para experimentá-los.

Ah, um aviso aos curiosos navegantes: não brilhei no escuro.

domingo, 9 de maio de 2010

Não sei como teria feito


Nunca um Dia das Mães fez tanto sentido para mim quanto esse domingo de maio de 2010. O que era para ter sido uma estadia de 10 dias para um exame e alguns passeios tornaram-se quase três meses da mais profunda dedicação da pessoa mais importante da vida: minha mãe.

Minha mãe é a pessoa mais guerreira que conheço. Desde sempre foi assim, essa fortaleza. Não foi diferente durante os piores meses da minha vida. Era ela quem estava lá ao meu lado com cada novidade dos últimos tempos, seja ela boa ou ruim.

Não foram poucos os dias em que ficamos olhando pra cara uma da outra em um hospital onde nada acontecia. Se eu precisava estar lá, ela não, mas, mesmo assim, lá estava ela, me olhando, perguntando se eu precisava de alguma coisa, insistindo para eu comer, xingando enfermeiros incompetentes, acordando no meio da madrugada só para empurrar o suporte do soro.

E a vibração dela com cada pequeno passo meu, cada nova melhora? Assim como dividimos algumas alegrias dos baby steps, também compartilhamos muitas angústias, ficando ainda mais próximas.

Assim, do nada (enfim, não foi bem do nada), voltei a me sentir com 5 anos – total dependente dela, do carinho dela e de sua atenção comigo durante 24 horas.

No próximo sábado, dona Sonia volta para o Sul e, desta vez, sem mim. Já sofro por antecipação. Não vai ser fácil cortar o cordão umbilical mais uma vez.

Feliz Dia das Mães, amada. Tu sabes colocar em prática o significado desta palavra tão intensa. Quando eu crescer, quero ser como tu.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A história do carocinho (o resumo)


Como boa pisciana que sou, na virada do ano comprei um livro com o guia astrológico para 2010. Lá dizia que após o dia 11 de março tudo iria mudar muito para aqueles regidos sob o signo dos peixinhos. Que tanta coisa boa iria acontecer que seria quase inacreditável. Pois bem, fiquei esperando enlouquecidamente a tal data...

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Uma ida à gastro. Eu nunca achei que pedir uma endoscopia fosse modificar minha vida para sempre. Entre um "apalpa aqui e ali" no pescoço (exame de rotina, que todos os médicos deveriam fazer) lá estava ele - o carocinho. Para uma boa hipocondríaca (e já aviso, devo piorar) aquilo já era chocante. Era estar frente a frente com todos os meus piores medos. Enfim, aquilo podia ser o início de uma caxumba até... até... "ai, não quero nem pensar!"

Um ultrassom revelou que o filho da mãe tinha 2 cm. Uma visita ao gineco garantiu que na minha idade "isto geralmente era benigno". Em uma passada pela endócrino recebi a notícia de que "havia 95% de chances daquilo não ser nada". Mesmo assim, me vi procurando um cirurgião de cabeça e pescoço, especialidade que, até então, nunca havia ouvido falar na vida.

No dia do meu primeiro encontro com o cara, a surpresa: "vamos tirar por meio de cirurgia". Pronto, agenda aberta e uma data: 9 de março.

Dia marcado, pescoço aberto. Resultado da biópsia durante a cirurgia: "sem sinais de malignidade". Muita festa! Que alívio!

Uma semana depois, porém, ainda em recuperação, a revelação: o exame microscópico havia encontrado algo - e não era legal, a começar pelo nome: carcinoma papilífero metastático- o popular câncer de tireóide. "É um câncer bom. Os médicos brincam dizendo que se pudessem escolher um câncer para ter, esse seria o de tireóide". É uma brincadeira animadíssima, creio eu! (ironia).

(Explicando: os médicos chamam esse câncer de bom porque ele não espalha pelo corpo e não é necessário se fazer quimioterapia e nem radioterapia, apenas uma iodoterapia um mês depois da glândula retirada).

"Teremos que abrir novamente!", disse o médico.

A segunda operação foi muito mais complexa. O corte foi maior (fiquei parecendo uma batata smile) e fizeram o que chamam de esvaziamento radical dos gânglios, o que seria o mesmo que passarem uma escavadeira do lado esquerdo do meu pescoço, com direito a tocarem violino com meu nervo do ombro. Além disso, lá se foi toda a minha amada e saudável tireoide.

A boa notícia: em tudo isso que retiraram, não encontraram mais nada maligno dentro de mim. Virei um caso em 47 no mundo: uma metástase com tumor oculto de tireóide, ou seja, sem uma raiz.

O problema da vez: cinco dias após essa cirurgia, o que rolou lá pelo dia 30 de março, o dreno parou de funcionar, gerando hematomas. Resultado: mais uma abertura de pescoço para drenar o sangue coagulado.

A essa altura eu já estava querendo pular da janela do hospital.

Entre uma alta e outra ainda aproveitava para TENTAR frequentar o meu curso de pós-graduação que havia acabado de começar.

Porém, dois dias após minha última alta, percebi que havia ar dentro de um espaço exato do meu pescoço. Mais de uma semana de pesquisa, os médicos encontraram uma fístula na traqueia, o que fez com que abrissem meu amado pescocinho pela QUARTA vez.

Junto com a fístula ganhei de presente uma pneumonia e, grátis, 10 dias de internação para tomar antibióticos na veia. A gente nota que a situação está grave quando começa a conhecer os enfermeiros pelo nome e bater papo com eles como se fossem velhos conhecidos.

Hoje, quase dois meses depois da primeira operação e após duas semanas da última, me preparo para a etapa final do tratamento: a iodoterapia, quando ficarei radioativa por alguns dias. Até que ele ocorra, me sinto fraca do hipotireoidismo, o que é normal quando se vive sem a glândula que foi retirada de meu corpitcho e que é total responsável pelo metabolismo.

Enquanto me recupero de vez fico pensando que, talvez, aquele livrinho astrológico não estivesse tão errado assim. Apesar de tudo que tenho passado, acho que nunca aprendi tanto sobre amigos, seres humanos e sobre mim em um tão curto espaço de tempo. Com certeza, o início de março iria mudar minha vida para sempre - com certeza absoluta, para melhor.

PS: Meus amigos, desculpem-me não ter contado antes sobre tudo que havia acontecido. Procurei não espalhar a história. Espero que entendam. Acima, um rápido resumo da obra.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Realidades no Divã

Aquele sofá de um braço só sempre me deu muito medo. Ele era bonito com estampa de oncinha ou em formato de sapato de salto, mas assim, normal – com uma cor escura e uma pequena almofada em um dos lados – era simplesmente assustador.

Pois não é que hoje fui convidada a experimentar o tal móvel? E gostei! Mais do que confortável, o que relaxou minhas pernas cansadas de um dia inteiro de trabalho, chuva torrencial e ônibus lotados, ele parece ter me acolhido – bem o que precisava naquela hora, um final de tarde no meio de uma semana qualquer.

Foi lá que divaguei e, confesso, por algumas horas pareceu que estava falando sozinha. Foi lá, naquele sofá azul escuro com a pequena almofada que eu entendi que muito do que vivo hoje são fantasias. Fantasias essas que criei, que insisto em viver e inventar. A realidade pode ser dura, mas é muito mais fácil encará-la. Até quando Walt Disney habitará a mente?

Hoje, depois de décadas mobiliando o meu próprio castelo de Cinderela me deparo com a realidade nua e crua: só necessitava de um móvel no meu modesto lar – um divã.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Após queimadura, a verdade: há coisas que nunca mudam

Acordei felicíssima neste domingo quando vi que (como um milagre) tínhamos sol em São Paulo. Como minha “laje” é meio coberta, há apenas duas horas de sol estratégico para se pegar – naquele horário bom do meio dia às duas (risos irônicos e doloridos)

Passei aquele protetor 15 só pra enganar e me joguei na torração – estreando minha cadeira de deitar e toda trabalhada no biquíni novo. Fiquei igual a bife na panela, virava de um lado, para o outro, enquanto me divertia com a biografia do Michael Jackson. Eu JURO que fiquei apenas uma hora no sol, o que me rendeu uma queimadura das boas – frente e verso. Agora vivo de pós-sol.

Depois de constatar a queimadura, me peguei pensando que essa bobagem solar eu faço desde que nasci. E, com certeza, nunca mudará. Gente, eu sou branca, normal queimar a carne vez em quando, não?

Por essas e por outras resolvi fazer uma listinha das coisas que sei que nunca mudarão em mim. Segue:

- Ficar uma hora no sol e passar dias tostada, parecendo um camarão ao molho de tomate

- Tomar banho duas vezes por dia

- Assistir ao SBT com uma frequência assustadora e amar Chapolin

- Ir de pantufas até a padaria

- Ter medo de gatos, não importando o tamanho dos bichinhos

- Reclamar de doença o tempo todo e sempre achar que está com uma nova

- Ler as bulas de remédios, achar que entende tudo e ainda medicar os outros

- Dormir na maioria dos filmes que trago para casa

- Jamais arrumar a cama

- Adorar saber uma boa fofoca

- Nunca falarei baixinho

- Consultar minha mãe para todo e qualquer problema ou comemoração

- Manter contato com os bons e velhos amigos

- Fazer novas amizades a cada esquina

- Usar meu celular mais do que devia

- Fazer compras mais do que desnecessárias

É bom saber que por mais que os anos passem, há coisas nessa vida que nunca mudarão. Que bom.