sábado, 31 de julho de 2010

“Ai, ai, ai titiiiiiaaa”


Acabo de voltar de mais um nada prazeroso passeio à rua 25 de março, localizada no coração de São Paulo – onde é sempre possível ver gente correndo da polícia, do rapa, de alguém...

Só frequento o local em caso de necessidade (talvez caridade) e também turismo. Sim, gente, a rua da muvuca é destino certo das pessoas que chegam a Sampa para ficar alguns dias - Tirando a Helena, claro. Que foge como vampiro de um colar de dentes de alho..

Ir para lá é sempre uma aventura. Isso porque é uma espécie de corredor polonês – com direito a massageadores inconvenientes e gente que solta pipa que, com a falta de vento, deixa o querido brinquedo voar na tua cabeça (e a novidade do dia: um balão-helicóptero). Além disso, tem o famoso “ai, ai, ai titiiiiiaaaa”, um bagulho que o povo enfia na boca e faz o barulho mais insuportável que já ouvi na vida. O negócio é tão parecido com uma droga que depois de muito ouvir você até começa a achar engraçado.

Isso não é nada comparado a estar interessadíssima em um lenço, colocando a mão no bolso para comprar o acessório, quando – de repente – a pessoa (que se diz vendedora) sai correndo com ele dali. “Porra, o que aconteceu? Eu juro que tenho dinheiro!”. Não era nada. Só o rapa. Fiquei sem lenço.

É claro que todo o esforço de frequentar o ambiente umas quatro vezes por ano tem sua recompensa. Você sempre pode se gabar de ter comprado um produto muuuito mais barato que seus amigos – e que vai quebrar muuuuito mais rápido que o deles...

Você também sempre tem a chance de fazer uma visita ao Mercado Municipal e degustar um delicioso pastel de bacalhau, um sanduíche de mortadela (que, cá pra nós, eu nunca tive coragem) e tomar um chope. Porém, depois de experimentar as delícias da boa vida novamente, quem diz que é fácil subir a ladeira Porto Geral e pegar o metrô para voltar pra casa?

Como diria o grande filósofo Kleber Bam Bam: “faz parte!”

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Fogo e paixão


Ouvi por aí que o nosso ascendente é como os outros pensam que somos e o nosso signo verdadeiro é como somos de verdade, no coração.

Quem me conhece de verdade sabe que sou uma pisciana no caroço: eu sou apaixonada e romântica, sempre sonhei com o príncipe encantado (e ele finalmente chegou!) e me fixo em qualquer pé de coelho para me dar uma forcinha extra.


Por outro lado, sei que meu lado ariano é forte – esse jeito decidido, que vai empurrando pessoas pelo caminho e sabe bem o que quer. Depois disso, é claro, meu lado peixes volta com tudo, e eu me sinto culpada por ter feito alguém sofrer, caindo em prantos...

Não é fácil ser água e fogo em uma mesma pessoa. Há quem resuma isso em bipolaridade, mas eu prefiro acreditar que essa mudança rápida no humor – na vontade de ser 8 ou 80 - tem a ver com ser Peixes X Áries. É o primeiro e o último signo do zodíaco em um só corpo. E como ele sofre!


Sou pé no chão e aérea ao mesmo tempo. Acredito ser responsável pelo meu destino, mas não deixo de acender uma vela, esfregar um cristal e trazer todos os tipos de mandalas e figas para dentro de casa. Fé nunca é demais!

Wando (rei!) já cantava o fogo e paixão, porém em duas pessoas distintas. Já eu sou o próprio fogo e a própria paixão. 2 em 1, como o shampoo + condicionador.

Gosto de ser essa mistura louca de acende e apaga, fogo e água. Agora ou nunca.

PS:
Breguice, assim como foi esse post, também é marca forte de meu signo de á
gua. ;)

domingo, 25 de julho de 2010

À procura do lar doce lar



Desde quando achar um lugar digno para morar tornou-se atividade tão difícil? Após dois dias de caminhadas intensas sob forte sol e poluição paulista, peço socorro aos amigos.

Em primeiro lugar, como é possível existir tantos apartamentos de um quarto só? Quando eu precisava deles, apenas não os encontrava. E agora que preciso de dois dormitórios, para onde eles foram?

Ladeiras sem fim, preços nas alturas, mas esperança que jamais morre.

Enquanto a casa perfeita não chega, só conseguimos viver bem com a ajuda do X-14 (que Deus abençoe esse produto contra o mofo!)

Os documentos já estão separados, o jovem casal louco para uma mudança, os móveis novos escolhidos.

Agora só preciso de um novo lar para chamar de meu.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Aceitando o acaso

"A prova de que estou recuperando a saúde mental, é que estou cada minuto mais permissiva: eu me permito mais liberdade e mais experiências. E aceito o acaso. Anseio pelo que ainda não experimentei. Maior espaço psíquico. Estou felizmente mais doida."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito

Esses dias fiquei pensando na minha missão na terra. Cada um tem algum talento especial, uma qualidade que ultrapassa qualquer defeito. Há aqueles que têm o dom para a arte, seja ela a música, a literatura, as cênicas... Há quem tenha facilidade para o intelecto – e nunca se cansam de aprender. Há outros, ainda, que têm sede de viagens e não descansam enquanto não conhecerem o mundo inteiro.

Acredito que o meu talento seja reunir pessoas. Sempre fui boa nisso. Gosto de ser amiga e de unir um grande grupo de pessoas ao meu redor. Meu dom talvez seja deixar as pessoas felizes. Gosto de me passar por boba, palhaça, imbecil – só para arrancar um sorriso cheio de dentes (ou, talvez, sem eles) de alguém. Acredito que sendo feliz a vida passa mais leve, menos dolorosa.

E é por essas e outras que hoje venho aqui agradecer aqueles que sempre estiveram do meu lado. Vocês sabem quem são. Os meus de verdade: aqueles que ficaram no sul (que ocupam um espaço gigante no meu coração e pensamento – sempre), aqueles que estão longe do Brasil, aqueles de Sampa, os só do trabalho, os mais que o trabalho, aqueles que fiz em cada novo passo pelo mundo, aqueles de sangue, aqueles de bar. O amor como melhor amigo. E até o amigo do amigo.

Quando estava no hospital e ficava triste, procurava sempre pensar nas coisas legais que já havia vivido por aqui (na Terra). O que me fez seguir em frente foi a certeza de que vocês existiam, que estavam pensando na minha recuperação e na minha saúde.

E o melhor de tudo é que sei que ainda há muito mais para ser vivido: conversas devem acontecer, piadas e chopps, festas, colos, lágrimas e sorrisos. Muitos sorrisos.

Amo vocês. Feliz Dia do Amigo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Bah, que frio de renguear cusco!



Pois é, caro paulista. Se você acha que isso que te faz usar um cachecol e botas se chama inverno, preste atenção às minhas palavras. A moça do lado de cá sabe bem o que é viver um frio de “renguear cusco”, expressão essa que você jamais deve ter ouvido.

Lá na minha infância, agraciada com finais de semana na casa de minha avó materna – na serra gaúcha – eu não conseguia dormir de tanto tremer. Ah, sim, lá fazia ZERO grau com uma certa frequência. Mas não é o tipo de frio que você mata com uma xícara de café. Lá a gente passava a cama à ferro antes de deitar. E olha que para dormir nós nos tapávamos com uma meia dúzia de cobertas fofinhas e pesadas, todas confeccionadas por minha vó Divina.

Se você acha sacrifício acordar quando a temperatura está lá embaixo, não imagina o que é amanhecer quando a geada dominou o seu jardim.

Uma blusa e um casaquinho? Experimenta tentar vestir três calças, um blusão e dois casacos. A cena não é das mais bonitas, mas se faz necessária. Isso quando não era infância, que ainda é preciso um par de polainas, uma touca e um enorme de um cachecol. Só fica faltando a cenoura no nariz!

Você, caro amigo, que acha que ligar um aquecedor é coisa de outro mundo, não sabe como é ter um em cada quarto e ainda uma lareira bombando na sala. Não sabe o valor de uma sopa de capeletti pelando, um vinho tinto e uma meia de lã.

O frio faz a gente querer ficar em casa. Talvez seja por isso que ele venha sempre acompanhado de saudade. Daquele cheiro de lenha queimando tão característico de tempos remotos de minha vida.

----------*-------------------------------*------------------------*---------------*-------------
Parece que São Paulo não combina com aquela friaca. É claro que, obviamente, ela também não combina com verão. A união da poluição MAIS trânsito MAIS gente suada não é nada agradável – ainda mais quando se anda de ônibus.

Voltemos ao frio. Demorou, mas ele chegou. Depois de tempo seco, sol rachando em pleno inverno paulista, narizes sangrando e postos de saúde lotados, lá veio a chuva, como um presente dos meus conterrâneos. Por sinal, cheguei a ser xingada por vários taxistas, como se fosse casada com São Pedro e tivesse mandado meu marido enviar água para a cidade da garoa.

Acordei na terça-feira com um certo calorzinho. Voltei pra casa congelada. Acho que sofremos uma queda de uns 15 graus em um só dia (com um certo exagero à la Borowsky, para os que não me conhecem so well). Para os que já me conhecem sabem que essa derrubada de celsius é o que me deixa mais feliz (é claro que tiraria a chuva de minha paisagem particular).

Devidamente encasacada saio me gabando pela velha Sampa, sempre deixando claro que eu, muito gaúcha, aguento frios muito piores do que este aqui.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Got milk?


Mais do que ninguém sempre odiei tomar leite. Aquele líquido branco me repugnava de uma forma inexplicável.

O meu truque para o Sucrilhos era encher o pote, comer a parte sólida e, depois, jogar o leite na pia.

Nunca achei que fosse precisar me preocupar com cálcio, mas, É CLARO, lá vem a vida não apenas colocando o pé pra gente tropeçar, como também mandando um “pedala, Camila!”

Quando “escavaram” meu pescoço para retirar minha tireóide por completo, os médicos acabaram levando minhas paratireóides, as glândulas responsáveis pela absorção do cálcio no corpo.

Minha endócrino acreditou que elas podiam ter sobrevivido à “escavação” mas, pelo que os exames têm mostrado, não há mais nada a fazer: terei que tomar cálcio e o fixador dele para toda uma vida.

A minha maior dificuldade ainda é me forçar a tomar leite e seus derivados. Porém, hoje mais do que nunca, sei da importância que tem uma vaca na vida!

Se tiver um único conselho para dar hoje para vocês, esse seria: “beba leite”

domingo, 11 de julho de 2010

I´ve had the time of my life


Ao contrário de muita gente traumatizada, eu tive uma infância emocionante. De tão feliz que ela foi, eu poderia ficar para sempre trancada dentro de um filme da “Sessão da Tarde” – com direito a casa na árvore e buzina na bicicleta.

É claro que todas as gerações têm o direito de puxar a brasa para sua sardinha, mas tempos melhores que os anos 80 vão demorar para acontecer.

Nós tínhamos muita liberdade. Aqueles que vieram antes tinham mais obrigações. Aqueles que vieram antes tinham roupas demais para poder brincar em paz no meio da rua. Aqueles que vieram depois tiveram medo de sair de casa (com razão!). Aqueles que vieram depois têm roupas caras demais e não podem sujá-las. A gente viveu a melhor parte porque esteve no meio de tudo.

Eu subi em muita árvore nessa vida (e, sim, quebrei meu braço em uma delas). Eu andei de bicicleta sem destino. Eu roubei flores de vizinhos. Eu fazia banquinhas e vendia meus gibis. Eu brincava de escolinha por quatro dias consecutivos ao lado da minha irmã. Eu comia bolo de chocolate à tarde, tomando Tang laranja e assistindo a “Curtindo a Vida Adoidado”. Achando (sempre) Matthew Broderick o cara mais lindo e rebelde do mundo.

Naqueles tempos os dias pareciam ter mais sol, as casas tinham menos grades. Os amigos eram os do colégio, os da rua, as primas.

A gente fazia festas de aniversário em nossas próprias casas (ou em clubes), mas jamais em buffets. Quantas noites sem dormir passou minha pobre mãe preparando decorações quando eu decidia temas absurdos para minhas comemorações, como a “festa do sorvete”? Nós tínhamos que bolar as nossas próprias brincadeiras. As músicas tocadas eram de todas as loiras da TV (e Mara Maravilha, a única morena), além de Trem da Alegria e Balão Mágico. Até hoje as crianças têm festas com essa trilha sonora. Eita falta de criatividade!


Era um tempo de poucas responsabilidades. Hoje em dia, uma criança tem não só o colégio por tempo alongado, como também faz aulas de línguas e todos os esportes do planeta. Eu também tinha meus compromissinhos, mas eles mal ocupavam meu tempo.

Sempre tinha o lado mais importante para qualquer criança: as brincadeiras.
Pude inventar coisas sem pé nem cabeça, mas que me deram uma certeza do que eu queria da minha vida: nenhuma rotina e um pouco daquela rebeldia digna de Ferris Bueller.

sábado, 10 de julho de 2010

I (L) São Paulo

Trânsito. Táxi. Delivery. All Star. Gay. Trabalho. Poluição. Rock. Vila Madalena. Cerveja. Noite. Sinaleira. Engarrafamento. Celular. Padaria. 24 horas. Amor. Augusta. Bilhete Único. Fumaça. Emo. Paulista. Pizza. Feijoada. Metrô. Passos rápidos. Passos rápidos. Risadas sem fim. Solidão. Câncer. Recuperação. Saúde. Saudade. Saudade. Amigos que são irmãos. Bares que são lares. Cerveja na hora do café. Dias por noites. Revistas. Outdoors. Arte. Teatro. TV. Bancas. Metrópole do mundo. Cidade de todos.

Aquele olhar

Uma das coisas que mais me irrita em ter passado por uma experiência de quase-morte é sentir que todos te percebem diferente. Parece que pós-câncer eu fico o tempo todo querendo provar aos outros que “hello, eu sou normal! Sou a mesma pessoa!”

Mas não adianta. Apenas os que não saíram do meu lado durante tudo que passei são os que me encaram como a mesma de sempre. Tenho até medo de contar aos outros porque sempre recebo aquele olhar...

Em mais um longo desabafo no divã percebi que, na verdade, esse é um olhar dado de Camila para Camila. Eu é que sempre fazia esse olhar quando alguém me dizia ter câncer ou qualquer outra dessas doenças que temos medo só de ouvir o nome. E, perceber que eu estava, na verdade, julgando o olhar alheio, me encheu de vergonha.

*---------------------------------------*----------------------------------------*

Hoje, em conversa com minha irmã americana, contei tudo que havia acontecido. Ela disse estar em choque (o pai dela morreu do maldito). Há dois meses o marido dela apagou em um terrível ataque cardíaco. Ele morreu e conseguiram reanimá-lo. Hoje ele está voltando à vida, em passos bem curtinhos.

Sabe o que ele mandou me dizer? Que não tinha mais medo de morrer. No tempo em que ficou morto, sentiu-se muito bem, em paz.

Eu perdi meu medo de morrer quando tive bastante tempo livre para pensar na vida. Hoje eu parei de pensar o que pode me matar. Hoje só quero saber do que me deixa mais viva, nem que seja apenas sair de casa.

A única coisa que sei é que nunca mais darei “aquele olhar” para ninguém. Nem mesmo para mim.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Aquele de quando eu perdi os Amigos

Foram 40 CDs em menos de um mês. Eu sei que é meio assustador, mas foram 240 episódios – um depois do outro, quase como abrir uma caixa de Bis. De repente, eu estava vivendo ali – em Nova York – com meus seis amigos: Chandler, Monica, Rachel, Phoebe, Ross e Joey.

Hoje, depois de passar um domingo inteirinho (e não minto quando digo isso) assistindo à última temporada de Friends, voltei para casa com um vazio. Um sentimento estranho. Parecia que não tinha com quem conversar.

O pior de tudo é que queria continuar vivendo tudo aquilo. E ainda sobraram perguntas do tipo “como será que estão os gêmeos da Monica e Chandler?” “Será que Rachel e Ross tiveram outros filhos?” “E Joey, será que encontrou um grande amor?” “Phoebe teve trigêmeos novamente e pode ficar com as crianças?”

E mais: “quem alugou o antigo apê da Monica?" "Rachel voltou a trabalhar na Ralph Lauren?”

E o mais importante: como ficou a amizade deles à distância?

Será que eles sentem a minha falta?

Eu só sei que já sinto saudades.