Aquele sofá de um braço só sempre me deu muito medo. Ele era bonito com estampa de oncinha ou em formato de sapato de salto, mas assim, normal – com uma cor escura e uma pequena almofada em um dos lados – era simplesmente assustador.
Pois não é que hoje fui convidada a experimentar o tal móvel? E gostei! Mais do que confortável, o que relaxou minhas pernas cansadas de um dia inteiro de trabalho, chuva torrencial e ônibus lotados, ele parece ter me acolhido – bem o que precisava naquela hora, um final de tarde no meio de uma semana qualquer.
Foi lá que divaguei e, confesso, por algumas horas pareceu que estava falando sozinha. Foi lá, naquele sofá azul escuro com a pequena almofada que eu entendi que muito do que vivo hoje são fantasias. Fantasias essas que criei, que insisto em viver e inventar. A realidade pode ser dura, mas é muito mais fácil encará-la. Até quando Walt Disney habitará a mente?
Hoje, depois de décadas mobiliando o meu próprio castelo de Cinderela me deparo com a realidade nua e crua: só necessitava de um móvel no meu modesto lar – um divã.