segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sempre gostei de temporais; hoje não mais

Quando era pequena, sempre gostava de ouvir os trovões, observar os raios, ver o vento levar tudo junto com a água da chuva que descia ladeira abaixo da rua onde morava.

Enfrentar um temporal no conforto da minha casa era a melhor coisa do mundo. Afinal, eu sempre tinha um lugarzinho embaixo da minha cama para me esconder. Ou melhor: o colo da minha mãe para correr.

Esta segunda-feira foi mais um dia de temporal aqui em São Paulo. Porém, os sinais da chuva torrencial que estava por vir já estavam óbvios assim que abri a janela de casa, logo que acordei.

Fora o sono, eu estava sentindo que o dia não seria dos melhores. Um temporal por vir.

No meio da tarde fiquei sabendo que uma pessoa que gosto muito passa por problemas sérios de saúde e que deve começar uma luta árdua nos próximos dias. Essa notícia fez os meus problemas parecerem minúsculos. Um temporal ali.

Pela janela do trabalho observei o tempo virando, as nuvens pretas cobrindo o céu. E, de repente, a água e o vento arrastando tudo o que encontravam pela frente. Temporal.

Voltei para casa, o ônibus lotado. Nem me importei. Chorei tudo que pude. Deixei o medo, a angústia, as dúvidas saírem pelos meus olhos. Um temporal particular.

Ao chegar em casa descobri os resultados do temporal na cidade: a falta de luz. Tentei lembrar dos tempos em que era bom sentir os primeiros ventos de uma chuva que prometia. Cochilei.

A luz voltou.

Definitivamente, hoje temporais são sinônimos de dias tristes. Espero que a luz volte logo.

domingo, 27 de setembro de 2009

A Bossa e Eu



Se pudesse ter escolhido uma época para viver meu início de vida adulta eu escolheria, com toda a certeza, os anos 50. Parece que tudo que ficou trancado nessa década é tudo de que mais gosto – a começar pela Bossa Nova.

E não sou daquelas que ouvem a Bossa somente porque ela está ano sim, ano não em uma novela do Maneco. Adoro o autor e sempre tiro o chapéu para as trilhas sonoras, porém, no meu caso, o ritmo mais carioca possível me acompanha desde o berço.

Bossa Nova lembra verão. Lembra acordar em casa no meio de uma manhã de domingo. De sentir o cheirinho da comida da minha mãe. De ouvir ela assoviando João Gilberto enquanto lavava algumas folhas de alface.

É som que acalma, que dá a certeza que o verão está para chegar. E que dias melhores virão.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Hoje descobri que te amo



Acordei na hora certa, mas o banho me atrasou. Saí de casa apressada, descendo as ladeiras dessa cidade que sobe e desce de maneira frenética.

O céu estava cinza (para variar). Peguei o ônibus de sempre, no lugar de sempre, com as mesmas pessoas ao meu redor. É claro que meu Bilhete Único estava sem crédito. Então tirei uma nota de dois reais e encontrei três moedas de dez centavos escondidas na bolsa. O cobrador dormia; precisei cutucá-lo para aceitar meu dinheiro.

O Perus/Lapa (meu ônibus) andou devagarzinho, como sempre, no meio daquele engarrafamento que já se tornou comum.

Foi quando dobrei uma das esquinas, olhei ao redor, um montante de prédios. Olhei novamente. De repente, a movimentação de carros e pessoas, a lotação do ônibus e até mesmo o céu acinzentado fizeram sentido.

E foi assim. E foi hoje. Foi o meu presente de primavera!

Hoje eu descobri que em pouco mais de um ano de São Paulo, eu amo essa cidade.

Sim, São Paulo, hoje descobri que te amo.

Um belo dia vou lhe telefonar pra te dizer que aquele sonho cresceu

“Um belo dia resolvi mudar e fazer tudo que eu queria fazer...”.

Nunca me acostumei com a monotonia, a rotina, com a mesmice. Por essas e outras escolhi o jornalismo como profissão. Jamais seria uma daquelas pessoas escondidas atrás de pilhas de papéis, fazendo exatamente o mesmo trabalho dia após dia.

Adoro a incerteza do que poderá ser o amanhã – o frio na barriga a cada nova pauta.

Foi visando a falta de comodidade que eu decidi ir embora, criar asas, voar alto. Desde os tempos da faculdade eu já tinha planos e dizia bem contente para minhas colegas que um dia eu iria conseguir um emprego, sair do Rio Grande do Sul e morar em São Paulo – onde as oportunidades realmente existem.

Pois bem, eu consegui.

Só que ninguém nunca me disse que mudar de estado poderia ser ainda mais doloroso que mudar de país; ninguém havia me alertado (e se o fizeram, entrou por um ouvido e saiu por outro) de como a solidão pode doer quando se está longe daqueles, os mais importantes – aqueles que sabem (por pior que isso seja) o que foi o seu passado, com seus piores erros e os melhores acertos.

Nenhum arrependimento. A peleia continua...