Camila Borowsky sempre soube muito bem o que queria da vida. Em mais uma destas certezas, mudou-se de mala e cuia (sim!) para a mais movimentada capital do país. É lá que hoje ela faz as duas coisas que mais gosta na vida: jornalismo e amigos. Porém, foi lá que ela sentiu o verdadeiro gosto da saudade. E ela sabe que ele é muito, muito mais amargo que qualquer chimarrão.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
A história do carocinho (o resumo)
Como boa pisciana que sou, na virada do ano comprei um livro com o guia astrológico para 2010. Lá dizia que após o dia 11 de março tudo iria mudar muito para aqueles regidos sob o signo dos peixinhos. Que tanta coisa boa iria acontecer que seria quase inacreditável. Pois bem, fiquei esperando enlouquecidamente a tal data...
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Uma ida à gastro. Eu nunca achei que pedir uma endoscopia fosse modificar minha vida para sempre. Entre um "apalpa aqui e ali" no pescoço (exame de rotina, que todos os médicos deveriam fazer) lá estava ele - o carocinho. Para uma boa hipocondríaca (e já aviso, devo piorar) aquilo já era chocante. Era estar frente a frente com todos os meus piores medos. Enfim, aquilo podia ser o início de uma caxumba até... até... "ai, não quero nem pensar!"
Um ultrassom revelou que o filho da mãe tinha 2 cm. Uma visita ao gineco garantiu que na minha idade "isto geralmente era benigno". Em uma passada pela endócrino recebi a notícia de que "havia 95% de chances daquilo não ser nada". Mesmo assim, me vi procurando um cirurgião de cabeça e pescoço, especialidade que, até então, nunca havia ouvido falar na vida.
No dia do meu primeiro encontro com o cara, a surpresa: "vamos tirar por meio de cirurgia". Pronto, agenda aberta e uma data: 9 de março.
Dia marcado, pescoço aberto. Resultado da biópsia durante a cirurgia: "sem sinais de malignidade". Muita festa! Que alívio!
Uma semana depois, porém, ainda em recuperação, a revelação: o exame microscópico havia encontrado algo - e não era legal, a começar pelo nome: carcinoma papilífero metastático- o popular câncer de tireóide. "É um câncer bom. Os médicos brincam dizendo que se pudessem escolher um câncer para ter, esse seria o de tireóide". É uma brincadeira animadíssima, creio eu! (ironia).
(Explicando: os médicos chamam esse câncer de bom porque ele não espalha pelo corpo e não é necessário se fazer quimioterapia e nem radioterapia, apenas uma iodoterapia um mês depois da glândula retirada).
"Teremos que abrir novamente!", disse o médico.
A segunda operação foi muito mais complexa. O corte foi maior (fiquei parecendo uma batata smile) e fizeram o que chamam de esvaziamento radical dos gânglios, o que seria o mesmo que passarem uma escavadeira do lado esquerdo do meu pescoço, com direito a tocarem violino com meu nervo do ombro. Além disso, lá se foi toda a minha amada e saudável tireoide.
A boa notícia: em tudo isso que retiraram, não encontraram mais nada maligno dentro de mim. Virei um caso em 47 no mundo: uma metástase com tumor oculto de tireóide, ou seja, sem uma raiz.
O problema da vez: cinco dias após essa cirurgia, o que rolou lá pelo dia 30 de março, o dreno parou de funcionar, gerando hematomas. Resultado: mais uma abertura de pescoço para drenar o sangue coagulado.
A essa altura eu já estava querendo pular da janela do hospital.
Entre uma alta e outra ainda aproveitava para TENTAR frequentar o meu curso de pós-graduação que havia acabado de começar.
Porém, dois dias após minha última alta, percebi que havia ar dentro de um espaço exato do meu pescoço. Mais de uma semana de pesquisa, os médicos encontraram uma fístula na traqueia, o que fez com que abrissem meu amado pescocinho pela QUARTA vez.
Junto com a fístula ganhei de presente uma pneumonia e, grátis, 10 dias de internação para tomar antibióticos na veia. A gente nota que a situação está grave quando começa a conhecer os enfermeiros pelo nome e bater papo com eles como se fossem velhos conhecidos.
Hoje, quase dois meses depois da primeira operação e após duas semanas da última, me preparo para a etapa final do tratamento: a iodoterapia, quando ficarei radioativa por alguns dias. Até que ele ocorra, me sinto fraca do hipotireoidismo, o que é normal quando se vive sem a glândula que foi retirada de meu corpitcho e que é total responsável pelo metabolismo.
Enquanto me recupero de vez fico pensando que, talvez, aquele livrinho astrológico não estivesse tão errado assim. Apesar de tudo que tenho passado, acho que nunca aprendi tanto sobre amigos, seres humanos e sobre mim em um tão curto espaço de tempo. Com certeza, o início de março iria mudar minha vida para sempre - com certeza absoluta, para melhor.
PS: Meus amigos, desculpem-me não ter contado antes sobre tudo que havia acontecido. Procurei não espalhar a história. Espero que entendam. Acima, um rápido resumo da obra.
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