domingo, 13 de maio de 2012

Por ela, para ela


Não sei como seria um dia não ouvir a tua voz. O mundo seria um lugar tão mais triste sem a tua gargalhada, que atravessa paredes e faz cócegas no coração. Lembro da tranquilidade que eu tinha em ir dormir quando criança e ouvia a tua risada enquanto assistia a um programa de televisão ou enquanto estavas em algum jantar com tuas amigas. Era só ouvir aquele “barulhinho de felicidade” e o sono já estava embalado.

Consigo lembrar nitidamente do primeiro registro de voz que eu e a minha irmã temos em fita cassete, em que surges ao fundo cantando conosco. As duas crianças, que até então se revezavam ao microfone, simplesmente param de cantar quando ouvem a tua voz. Nós duas, ainda muito pequenas, apenas conseguíamos balbuciar o finalzinho das palavras, com certeza hipnotizadas pelo teu dom.

Até hoje, a milhas de distância, quando a alegria, a tristeza ou a dúvida não cabem mais dentro de mim, fujo para a tua voz, busco te ouvir, mesmo que seja em pensamento. Às vezes é o mais perto que posso chegar de ti.

Entre teus tantos talentos – e, vamos combinar, não são poucos. Aqueles que te conhecem, sabem bem do que estou falando – ser mãe é o que fazes com maior perfeição. Se dizem que a gente escolhe a família onde vai nascer antes de vir ao mundo, eu ganhei o prêmio acumulado na loteria da vida: me colocaram diretamente nos braços de um anjo.

Queria estar aí, mas me aconchego na tua voz.
Eu te amo demais.

Feliz Dia das mães!
Camila

PS: Abaixo, uma música que nós duas adoramos. Uma declaração de amor. Pra ti, amada.


"She
Maybe the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I'll care for through the rough and ready years
Me I'll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is

She, she, she"


terça-feira, 1 de maio de 2012

Monstros S.A.




Fujo com frequência desses monstros que me perseguem. Eu espero o ônibus enquanto eles fumam um cigarro embaixo da marquise mais próxima. Chego ao metrô e posso senti-los descendo as escadas atrás de mim. Passo o bilhete único, mas sei que eles conseguiram passar pela catraca – mesmo ela se abrindo e fechando rapidamente. Espero o trem. Um deles para atrás de mim e senta ao meu lado logo que a porta se abre – mesmo existindo uma dezena de assentos para ele se aconchegar.
Eles são o pior tipo de passageiro. A cada nova parada, chegam mais perto. Estação Brigadeiro Faria Lima. Eles descem em bando, logo atrás de mim. Eu caminho mais rápido, mas eles agora correm e cruzam a minha frente, como vultos aterrorizantes. Já não tenho mais nenhum controle. Sou vítima da minha própria criação.
Abro o envelope, eles espiam o papel. De repente, já não estão mais ali. Saem devagar, um a um, enquanto eu releio o documento.
Hoje eu ganhei.