Camila Borowsky sempre soube muito bem o que queria da vida. Em mais uma destas certezas, mudou-se de mala e cuia (sim!) para a mais movimentada capital do país. É lá que hoje ela faz as duas coisas que mais gosta na vida: jornalismo e amigos. Porém, foi lá que ela sentiu o verdadeiro gosto da saudade. E ela sabe que ele é muito, muito mais amargo que qualquer chimarrão.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
O descanso do guerreiro
Lembro quando cheguei ao camarim da Record pela primeira vez. Estava nervosa por ter que encarar a televisão. Mal podia segurar a ansiedade. E sim, lá estava ele, Alê Rocha, na santa paz, com as perguntas na ponta da língua, esperando a nossa primeira vítima – o eliminado da fazenda da vez.
Na primeira vez que conversamos, eu vinha de um início de ano dificílimo – depois do câncer, das internações, do tratamento. E já havia sido aquele ano em que eu havia entendido (de verdade) a valorizar as pequenas coisas da vida. Então, naquele camarim, depois de ele elogiar meu vestido longo estampado , conversamos sobre cicatrizes e, então, ele me contou sobre o seu diagnóstico de hipertensão pulmonar.
Durante os três meses do quadro, ele chegou a ficar internado, mas voltou a tempo de sentar no seu lugar da bancada – o de líder. E ele sabia amedrontar os convidados sem ser petulante. Queria saber tudo e não ficava com medo do que fossem pensar. E como ele ria. Se lhe faltava o ar com gargalhadas? Ele não ligava. Sabia que passaria por essa.
Pouco antes dos shows do SWU de 2010, eu perguntei a ele se não tinha medo de ir e passar mal no meio da multidão. Sabe o que ele me respondeu? “Se eu morrer fazendo uma das coisas que mais gosto na vida, estou feliz”. E ele era isso mesmo: um colecionador de bons momentos, um realizador dos próprios sonhos.
Falava do filho como um pai apaixonado e gostava de enfatizar que sabia que estava vivendo tanto, aguentando tantas dores , por causa do pequeno João, para quem ele mais queria ficar bom para que pudessem jogar futebol juntos.
E eis que, após diversas ameaças de desistir de tudo, Alê conseguiu o seu transplante. E ele gostava de apostar com Deus que viveria, sim, que os médicos deveriam confiar nele. E a operação aconteceu. E foi um sucesso. Acompanhei diariamente as novidades sobre o seu estado de saúde, até saber que uma infecção havia atrapalhado os planos. Menosprezei aquela febre- sabia que ele era forte demais e que passaria por mais essa. Mas não deu. Porém, ele confirmou o que sempre disse: que iria morrer lutando para ficar bom.
No meu facebook, após uma comemoração minha pelos bons resultados dos exames, agradeci pela situação e ainda usei o #saudeeoqueinteressa. Alê comentou: “Saúde é só o que interessa. Só.”
Alê, obrigada por ter ensinado tanto a tantos. A mim, tu mostraste que somos capazes de enfrentar o mundo e que, nem por isso, precisamos passar a vida reclamando ao invés de vivê-la. Obrigada por ter cruzado o meu caminho. Obrigada por ter existido. Com certeza alguém estava precisando muito de ti lá em cima.
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