domingo, 11 de julho de 2010

I´ve had the time of my life


Ao contrário de muita gente traumatizada, eu tive uma infância emocionante. De tão feliz que ela foi, eu poderia ficar para sempre trancada dentro de um filme da “Sessão da Tarde” – com direito a casa na árvore e buzina na bicicleta.

É claro que todas as gerações têm o direito de puxar a brasa para sua sardinha, mas tempos melhores que os anos 80 vão demorar para acontecer.

Nós tínhamos muita liberdade. Aqueles que vieram antes tinham mais obrigações. Aqueles que vieram antes tinham roupas demais para poder brincar em paz no meio da rua. Aqueles que vieram depois tiveram medo de sair de casa (com razão!). Aqueles que vieram depois têm roupas caras demais e não podem sujá-las. A gente viveu a melhor parte porque esteve no meio de tudo.

Eu subi em muita árvore nessa vida (e, sim, quebrei meu braço em uma delas). Eu andei de bicicleta sem destino. Eu roubei flores de vizinhos. Eu fazia banquinhas e vendia meus gibis. Eu brincava de escolinha por quatro dias consecutivos ao lado da minha irmã. Eu comia bolo de chocolate à tarde, tomando Tang laranja e assistindo a “Curtindo a Vida Adoidado”. Achando (sempre) Matthew Broderick o cara mais lindo e rebelde do mundo.

Naqueles tempos os dias pareciam ter mais sol, as casas tinham menos grades. Os amigos eram os do colégio, os da rua, as primas.

A gente fazia festas de aniversário em nossas próprias casas (ou em clubes), mas jamais em buffets. Quantas noites sem dormir passou minha pobre mãe preparando decorações quando eu decidia temas absurdos para minhas comemorações, como a “festa do sorvete”? Nós tínhamos que bolar as nossas próprias brincadeiras. As músicas tocadas eram de todas as loiras da TV (e Mara Maravilha, a única morena), além de Trem da Alegria e Balão Mágico. Até hoje as crianças têm festas com essa trilha sonora. Eita falta de criatividade!


Era um tempo de poucas responsabilidades. Hoje em dia, uma criança tem não só o colégio por tempo alongado, como também faz aulas de línguas e todos os esportes do planeta. Eu também tinha meus compromissinhos, mas eles mal ocupavam meu tempo.

Sempre tinha o lado mais importante para qualquer criança: as brincadeiras.
Pude inventar coisas sem pé nem cabeça, mas que me deram uma certeza do que eu queria da minha vida: nenhuma rotina e um pouco daquela rebeldia digna de Ferris Bueller.

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