Como é que pode uma música remeter a gente a um tempo só dela, não é? Se não me olhar no espelho enquanto ouço Jewel posso garantir que ainda tenho 16 anos – e estou em Louisiana - passando um dos melhores anos da minha vida, fazendo intercâmbio para, depois, voltar para casa.
Lembro o quanto me achava fodona naqueles tempos. “Nossa, to indo morar sozinha!”. Psssss. Contas pagas, cartão de crédito conjunto com o da mãe, comida sempre na mesa, prontinha, caminha arrumada. Ah, quem dera assim fosse morar sozinha.
Eu, que sempre achei que havia nascido para viver solitária, como uma ilha, percebi que essa era uma grande ilusão quando, do nada, precisei montar minha própria casa. A fase da compra dos móveis foi uma alegria, assim como acertar o aluguel e assinar contratos. A mudança foi animada e a primeira noite no local me dava a mesma sensação pré-embarque do intercâmbio: “Nossa, agora eu moro sozinha!”
E agora era verdade. BIG DEAL!
Se é divertido nos primeiros instantes, logo cansa. Não há nada engraçado em ter que carregar 6 sacolas de compras sozinha, com um guarda-chuva na outra mão. Não há a menor graça em cozinhar para uma só pessoa e assistir TV sem ter ninguém para comentar um programa. Isso sem falar nas contas, nos problemas elétricos e de encanamento...
É claro que com tudo isso acontecendo, a única coisa que resto ao ser é amadurecer, aprender a fazer, não é?
A gente acha que a nossa companhia é agradável – e a minha é muito, viu? – mas nada se compara com calor humano ao redor. Tem alguma coisa melhor que entrar em uma casa cheia de gente? Tem coisa melhor do que deixar um copo em cima da mesa e, no outro dia, ele aparecer lavadinho? Ou alguém para comprar remédio na farmácia e cozinhar uma sopinha nos dias de gripe?
Ter alguém (ou alguéns) para esperar é muito divertido. E a felicidade ao ouvir a chave girando na fechadura? Incomparável!
Ai, Camilinha de 16 anos, tu eras tão ingênua!
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