Camila Borowsky sempre soube muito bem o que queria da vida. Em mais uma destas certezas, mudou-se de mala e cuia (sim!) para a mais movimentada capital do país. É lá que hoje ela faz as duas coisas que mais gosta na vida: jornalismo e amigos. Porém, foi lá que ela sentiu o verdadeiro gosto da saudade. E ela sabe que ele é muito, muito mais amargo que qualquer chimarrão.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Ondas de "gelatina"
Nunca gostei do mar sem ondas. Nunca me acostumei com aquela leveza que quase não oferecia perigos. No Rio Grande do Sul, a “fúria” das águas sempre foi medida por bandeiras colocadas em frente às guaritas dos salva-vidas. Havia as brancas, que indicavam “nenhum perigo”; as amarelas, “tranquilidade”; as vermelhas, “cuidado”; e as pretas, “não entre”.
Sempre fui muito mais adepta das bandeiras vermelhas, enquanto as pretas me instigavam, aguçavam minha vontade de ir bem fundo. As amarelas indicavam que lá havia água quentinha e calmaria. É claro que ficar ali por alguns minutos era interessante, mas logo o tédio tomava conta de mim. As brancas, eu nunca cheguei a ver.
Sempre tive atração por desafios. E o mar da bandeira vermelha era perfeito para mim. Logo no início, os buracos. Caminhar devagar para não cair em um deles – um pequeno momento de distração poderia significar um tombo ou um longo tempo imóvel em constante batalha com a água salgada. Por isso, eu tentava me manter equilibrada e medir cada passo.
Depois da fase dos buracos (que ficavam na beira da praia) vinha a etapa das ondas fortes. Não havia muito tempo para pensar: elas bateriam no meu corpo. Agora era escolher um caminho a seguir – mergulhar ou esperá-la chegar perto – o que trazia uma nova leva de questionamentos como “se eu deixá-la bater em mim, será que me levará longe?”
É claro que muitas vezes fiz a opção errada e acabei dando cambalhotas embaixo d´água sem nem mesmo ter tempo para pensar. Outras tantas vezes mergulhei e quando vim à tona outra onda batia no meu rosto, de supetão, sem nem mesmo me deixar fazer alguma escolha.
Porém, entre os tantos desafios, o mais gostoso – além de ultrapassá-los - era poder chegar ao limite: a tranquilidade. Era lá que se escondiam as ondas “gelatina”, como eu gostava de chamá-las: imensas, “fofas”, onde o mar já não quebrava mais e eu podia relaxar. Estar naquela imensidão me dava a sensação de dever cumprido e eu me permitia a entrega à calmaria, não sem antes ter certeza, de que eu teria uma tarefa árdua para sair de lá, o que tornava aquela hora ainda mais mágica, momentânea, repleta de desafios
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Água parada não tá com nada: o bom é o perigo do não saber o que vem pela frente, sejam ondas exterminadoras ou as de "gelatina". É isso que dá graça à vida. Ao menos isso eu aprendi, ou constatei, sei lá.
ResponderExcluirEu aprendi a subir à tona "de costas para o mar", para que qualquer onda que apareça de surpresa não me bata na cara, mas na nuca.
ResponderExcluirUso essa técnica com a Rôsa também.
MUito bem, Waguinho! Clap, Clap!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTu me fez lembrar minha infância na praia quando eu ia para a beira com a família e depois de 5 minutos no sol olhava pro meu pai e soltava: Pai me leva no fundão? Se a resposta era sim ( e sempre era) estava feita a minha manhã. Que delícia chegar lá onde eu não dava pé e ficar boiando, subindo e descendo nas ondas de gelatina!! Passou um filme na minha cabeça agora... um beijo enorme!
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